sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

UMA VISÃO



Brasil, 2013 d. C. A verdadeira revolução em andamento não é aquela da esquerda contra a direita, ou do socialismo contra o capitalismo, como muitos ainda supõem: estamos diante da insurreição das compulsões passionais (ira, gula, luxúria) contra o Império da Razão (prudência, moderação, justiça). As filosofias do perigo, nomeadamente aquelas de marx, freud e nietzsche, são os aríetes e os lança-granadas para demolir as Catedrais da Metafísica e da Axiologia judaico-Cristãs. Quem não percebe as performances demagógicas e populistas dos panfletários do caos, que pregam a eliminação não só do Cristianismo, mas de toda Hierarquia dos Bens e de toda Consciência Moral, afirmando, aos gritos e pedradas, que a ética não passa de uma convenção social burguesa, e que a humanidade só será livre quando viver seu tempo na orgia báquica da história, sem Remorso ou Arrependimento? Se não há Paraíso nem Inferno, se os homens não devem amar e temer a Deus, se toda a fé cristã é uma ficção produzida por tipos psicofisiológicos ressentidos, autoflagelados e esgotados, ou de burgueses reacionários que não vivem o submundo de suas pulsões ctônicas à flor da pele, extravasando sua libido no livre exercício da incontinência e na dissolução da carne no subterrâneo visceral de dionísio, o único caminho a ser desbravado em direção ao abismo por essas almas deformadas só pode ser aquele da revolução. Já que toda a civilização cristã, com suas autoridades estatais (Democracia Representativa) e suas instituições eclesiásticas (Communio Ecclesiae) são as responsáveis pela degeneração da sociedade, como se os hermeneutas da suspeita, entronados como deuses por defenderem o paganismo greco-romano em sua versão gnóstico-órfica, nada tivessem que ver com a exortação ao suicídio, à escravidão, à promiscuidade sexual nos cultos ctônicos, legitimando o aborto, o incesto, o parricídio, o matricídio, o infanticídio e a pedofilia, a juventude rebelde, esse fã-clube de Maio de 68, deliberadamente protesta contra tudo que aí está, pois ela crê que o assassinato, o narcotráfico, o roubo e o estupro podem estar na ordem do dia. O que é a reforma do código penal, senão um manifesto a favor da descriminalização do triunfo dos irascíveis e concupiscentes? Tudo será descriminalizado, para que os únicos criminosos sejam os ressentidos, os reacionários e os recalcados, isto é, todos os cristãos ou criaturas de razão iluminada pela fé que insistam em amar a Deus e ao próximo derrubando as estátuas dos deuses civis: o aborto, a toxicomania, a eutanásia, o abolicionismo penal (para latrocidas e narcoguerrilheiros) e o paradoxal “casamento” gay (que pode consistir em um matrimônio de até 2.378 cônjuges do mesmo sexo, se as partes contraentes consentirem, segundo o novo evangelho dos libertários). Que crime maior pode haver, para os réprobos, do que essa Iconoclastia? Assaltar os templos dos deuses da cidade, depredando o apolíneo mármore entalhado com a face histriônica de nero, com o sorriso psicótico de calígula, com as mãos pedófilas de adriano, com o olhar bestial de domiciano, com o ânus sedento de baco e o pênis fulminantemente violador de hermes, incendiando os altares onde eunucos e hetairas celebram a doentia paixão de rimbaud e verlaine, os crimes de jean genet e de marcinho vp, enquanto meretrizes entoam hinos de louvor ao abusador de menores que foi mao dzé dong e ao confesso assediador de criadas que foi schopenhauer? Lancemos às flamas mais ardentes o busto de nietzsche, que do alto de sua moral nobre, homérica, trágica, báquica, transvalorada, aproximava-se das mulheres com um chicote e, imerso nas fezes de sua luciferina solidão, ao mesmo tempo em que enaltecia o anticristo só gozava nos dosséis das zonas de baixo meretrício! Lancemos ao precipício os retratos de heidegger, cuja filosofia é uma apologia do terceiro reino encarnado na nação germânica, atualização da potencialidade doentia que enferrujava nos versos de hölderlin, nessa realização de uma sociedade de fortes que estavam abertos para sua possibilidade extrema: tomar o seu lugar no nada. São homens de três cabeças os que se dizem sábios: com uma exigem a supressão da sociedade de classes; com a outra impõem a transvaloração dos valores; com a de trás clamam pelo triunfo da incontinente libido sobre a potência racional da alma. A terceira internacional dialoga com o terceiro reich e com o fascismo, a nova roma, porque desde plekhanov os socialistas russos afirmam-se imperativamente como o novo evangelho, como aqueles que trarão o apocalipse e realizarão o reino da bem-aventurança da miséria universal, cumprindo a insanidade de joachim de fiore. Segundo aleksander dugin, o fascista russo, a última revolução será o império do fim, quando o acéfalo carregar a cruz, a foice e o martelo, ensolarado pela suástica eterna, o símbolo de todos os gnósticos. A cruz portada pelo acéfalo de dugin é um símbolo de que, para essas almas réprobas, Cristo e lúcifer são um e o mesmo: o império gnóstico, para além da esquerda e da direita. Segundo dugin, será o regnum ilimitado do onipresente autocrata, reino do misticismo neopagão avesso à razão iluminada pela fé, ao sistema axiológico metafisicamente fundamentado da cristandade, e à dignidade da personalidade individual humana em sua imagem e semelhança de Deus. O acéfalo imporá sua voz como a do pantocrator, católicos e judeus serão proscritos por não aceitarem o primado das embriagantes forças ctônicas. A Santíssima Trindade será abolida do imaginário, o autocrata será divinizado e ordenará que sejam erguidos templos para que a massa amorfa e acéfala cultue os efebos e as hetairas abandonados à voluptuosa tirania, que diuturnamente viola seus corpos em uma entorpecente celebração do que há de mais vermelho no sangue revolucionário.             

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